Alfaiataria e Modelagem Skinny Não Combinam

A elegância na moda masculina está muito além da vontade de alguém mostrar os glúteos torneados na academia ou as pernas musculosas fruto de horas de malhação ininterrupta, se fosse assim as roupas só seriam feitas para quem malha.

Caimento de itens de alfaiataria

No topo do ranking da elegância do guarda-roupas masculino vem, claro, os itens de alfaiataria. Clássicos, eles foram criados em uma época onde o importante era mostrar uma silhueta harmoniosa e discreta, esbanjando bom gosto e classe.

O caimento desses itens mudou não só com o passar dos anos, mas também com mudanças nas tendências, dos padrões e do gosto masculino. Cinturas de calças subiram e desceram, lapelas alargaram e estreitaram, assim como o caimento ficou mais largo em algumas épocas e mais seco em outras – afinal a onda atual do slim fit não chega a ser uma novidade.

Alfaiataria na moda casual X caimento Skinny

Com a adição desses itens a indumentária casual era de se esperar que a galera chegada em um exagero levasse tudo às últimas consequências, com o slim fit virando skinny. O resultado são as calças capazes de esterilizar até o Mister Catra, de tão apertadas, e os paletós justos ao ponto de ser possível contar todo os músculos dos braços, até mesmo aquele pequenininho que só aparece quando a gente levanta o dedo mindinho.

Se você acha isso bonito, eu vou pedir educadamente que reveja seus conceitos. A calça skinny é nosso guilty pleasure, eu até tenho uma, mas vamos parar por aí. Um jeans justinho é “passável”, desde que ele não pareça malha de balé, já uma peça de alfaiataria com o mesmo caimento é puro desperdício de lã fria e talento dos profissionais especializados. Não podemos transformar em mundano algo tão venerável, e eu estou falando não só da roupa, mas também da figura do homem elegante.

O pior é que um item acaba puxando o outro. Tem cara por aí vestindo camisa social inexplicavelmente apertada e achando que isso é o que as as pessoas admiram em um homem bem vestido. Sinto muito amigo, mas você está equivocado!

Vamos ver alguns casos de perto:

Caso 1 – Calças de alfaiataria

Qual é sentido de comprar uma calça de alfaiataria se ela parece uma calça comum, mas com bolsos verticais? É isso que acontece quando você usa um item desse tipo muito colado ao corpo. Além disso a alfaiataria pede fluidez! O tecido tem que fluir com graça pelo seu corpo, mas na foto acima você nota como ele fica embolado na altura dos joelhos, isso porque o material está muito encostado na pele. Note também que mal dá para colocar as mãos nos bolsos e que estes estão marcados no início da coxa.

Nesta segunda imagem dá para notar como o tecido tem caimento mais confortável no corpo, mesmo moldando um pouco da silhueta, pois a intenção é apenas sugerir o formato do corpo. Nada de tecido embolado nos joelhos, forro do bolso marcando ou mãos que mal cabem nas aberturas dos bolsos, além da panturrilha que não está embalada a vácuo. Até poderia ser um pouco mais ajustada, mas bem pouca coisa.

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Caso 2 – Costumes e ternos

Esse eu tive até que cobrir o rosto, tipo programa policial. Nem sei por onde começar, mas vamos lá: paletó repuxando na barriga, mesmo estando abotoado errado, o que indica que o tamanho está inadequado, partes baixas esmagadas e panturrilhas marcadas, além das óbvias dobras na altura dos joelhos mostrando que o tecido está sofrendo estresse em vários pontos. Um alfaiate da Savile Row enfartaria vendo isso!

Calma que não acabou: observe como os braços estão apertados e com movimentos limitados! Outro problema é esse vão que fica entre o paletó e o tórax, mostrando que as medidas da peça estão inferiores as do corpo.

Você não veste um terno só porque tem que vestir um terno, você veste um terno porque quer ficar elegante para um evento especial, mas quando esse traje tem o mesmo caimento da sua malha de helanca da Adidas isso é impossível!

Olha a classe de um costume bem cortado: tecido sem esticar ao extremo, conforto, liberdade de movimentos e uma silhueta bem definida sem a necessidade de músculos desenhados sob o tecido. Você olha para o sujeito e sabe que ele é uma montanha, não precisa ver cada detalhe de sua anatomia, o traje deixa isso implícito.

E tem mais, quanto mais musculoso você é menos ajustado pode ser o terno, pois a massa corporal se encarrega de deixar as coisas no lugar.

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Caso 3 – Comprimento

Calça capri masculina não foi legal nos anos 90, nos anos 2000 e nem agora que cismaram de chamar de cropped. É aceitável a barra um pouco mais curta, pois as calças afuniladas tendem a entrar para dentro do sapato e embolar quando muito longas, mas deixar um pedacinho da perna a mostra é muito diferente de usar uma peça que termina no meio das canelas. Com as calças super apertadas e as barras muito curtas tudo que havia de sofisticado e elegante na calça de alfaiataria se vai, praticamente temos outro produto, tipo um sapatênis, só que você veste em vez de calçar.

Neste post você encontra um dossiê sobre barras de calça na atualidade, onde eu explico melhor o fenômeno do encurtamento.

Veja como a barra levemente encurtada é elegante, moderna e ainda assim ajuda alongar a silhueta. A calça apenas ajustada ao corpo, sem apertar, não prende vinca nos joelhos, nem prende nas panturrilhas e termina na altura ideal para quem gosta de deixar um pedaço do tornozelo a mostra. Perfeito!

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Nota final:

Quando for abraçar alguma tendência, principalmente as mais novas, cujas referências ainda são poucas ou muitas e confusas, sempre comece por aquilo que considera mais discreto e depois vá passando para outros elementos mais ousados, assim você tem tempo de pensar no que está usando, experimentar e saber se realmente está disposto a abraçar algo que pode soar estranho, diferente ou disruptivo.

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