São Paulo tem “uma rua” para todo tipo de comércio: a rua da noivas é a São Caetano, a dos instrumentos musicais é a Teodoro Sampaio, e, claro, a rua dos badulaques é a 25 de Março, onde se compra de decoração de festa a bijuterias. Parece uma coisa muito paulistana criar focos comerciais para facilitar o acesso dos compradores, mas isso não é exclusividade tupiniquim, os britânicos, por exemplo, tem a sua rua da alfaiataria, a Savile Row – e que rua, meus amigos!
Savile Row: a rua do homem britânico elegante
Também conhecida como “The Golden Mile of Tailoring”, a Savile Row é uma referência internacional quando se fala em alfaiataria masculina. Algumas das marcas mais respeitadas e os alfaiates mais habilidosos estão localizados lá, como se não bastasse isso a rua também abriga o escritório da gravadora Apple, dos Beatles (que emprestou o telhado para uma antológica apresentação final da banda) e a sede da Royal Geographical Society, responsável pela era das grandes expedições a África, mas estes vizinhos ilustres não são o foco de nosso texto.
História da Saville Row
Localizada no bairro Mayfair, na parte central de Londres, ela já se chamou Savile Street e não foi a primeira escolha das confecções, antes dela a Cork Street (frequentada pelo dândi Beau Brummell no início do século XIX), que fica na vizinhança, recebeu as primeiras lojas. Dizem que foi Henry Poole quem primeiro abriu uma passagem na Saville Row, dando acesso a sua loja na Old Burlington Street em 1846, atraindo atenção para o local, trazendo aos poucos outros nomes da alfaiataria.
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Obs: Ainda não falei sobre Henry Poole aqui no Canal Masculino, mas ele foi o criador do smoking, a pedido do Rei Eduardo VII – a história é bacana, mas fica para outra ocasião! : )
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Com o tempo outras oficinas de alfaiates foram se mudando para o endereço, infelizmente poucas das originais existem até hoje, mas as lojas ativas continuam oferecendo o que há de melhor na moda masculina e não é a toa que celebridades como o Príncipe Charles, Winston Churchill, Laurence Olivier, Jude Law e até Napoleão III confiaram seus trajes às habilidosas mãos dos profissionais da Savile Row!
O mais curioso é que apesar de toda essa tradição os alfaiates da marca “Nutters of Savile Row” foram os responsáveis, no final dos anos 60, por modernizar seu ofício, tanto pelo ponto de vista de estilo quanto na maneira de tratar os clientes, com lojas abertas e vitrines chamativas. Isso não impediu que a alfaiataria “bespoke” (feita sob medida) passasse por alguns maus bocados nos anos 80 com a popularização dos ternos prontos e baratos que só precisavam de alguns ajustes, embora nunca ficassem tão perfeitos e elegantes.
Novas caras na Savile Row
Nos anos 90 a chegada de novos nomes a Savile Row injetou ânimo ao local e trouxe frescor ao ofício. Designers arrojados como Richard James, Ozwald Boateng e Timothy Everest deram novo fôlego ao conceito bespoke e mantiveram os holofotes da mídia voltados para a tradicional rua de alfaiates durante um tempo, contudo, os altos preços de aluguéis no início dos anos 2000 afastou algumas marcas, deixando a rua desfalcada.
Futuro da Savile Row
Na última década a Savile Row tem sofrido com a competição vinda da China com seus preços sedutores, além disso a mudança de hábitos do consumidor afugentou o público feminino que cada vez mais quer sair da loja com a roupa pronta para ser usada. Mesmo assim existe todo um movimento em prol da cultura do bespoke tailoring que segue por todo o mundo, até mesmo no Brasil, é notável como os homens estão entendendo que não existe nada que se compare com o traje feito sob medida. As próprias grifes da Savile Row estão recebendo investimentos e apostando em novos mercados, onde, novamente, a China aparece como opção.
Apesar de todo esse cenário de incerteza, a Savile Row continua fazendo milhares de ternos todos os anos, mostrando que a competição pode ser forte, mas a elegância, por enquanto, se mantém imbatível.