Quiet Luxury: O Conceito de Moda Onde Luxo Não Está Ligado a Ostentação

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Quiet Luxury - Ermenegildo Zegna
Zegna Primavera 2023

Talvez você já tenha ouvido falar de quiet luxury (“luxo silencioso” ou “luxo discreto”) que é, basicamente, vestir-se de uma maneira discreta, mas com roupas de alta qualidade e de grifes renomadas, deixando o logo ou a etiqueta em segundo plano.

As roupas flertam com o sofisticado, clássico e atemporal, sem se preocupar com tendências e excentricidades, trazendo inovações mais em seus materiais e meios de produção do que em seu design.

6 Pontos Principais do Quiet Luxury

1 – O estilo quiet luxury tem muita qualidade

Quiet Luxury - Theory Menswear
Theory Menswear

Como eu disse, não estamos lidando com itens de lojas medianas, com materiais muito bons, aqui a qualidade é altíssima e ela se desdobra não só em tecido, mas também em acabamento, detalhes, design e caimento.

Aliás, o quiet luxury não é só roupa de arara, muitos homens que optaram por esse estilo resolveram pegar essa dinheirama que seria investida em grifes de luxo e contratar os serviços de um bom alfaiate. Nada mais luxuoso do que ter uma roupa cara feita sob medida.

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2 – Luxo na manufatura

Acabamento interno de um paletó Ermenegildo Zegna

Tecidos desenvolvidos especialmente para uma determinada peça, fibras raras, aviamentos de materiais duráveis e valiosos, a troca da manufatura industrial pelo trabalho artesanal e especializado: já que as grifes não podem colocar o logo em destaque, as pessoas tem que identificar o luxo pela excelência que a roupa apresenta. Nesse caso os clientes saem ganhando, pelo menos os que tem dinheiro para isso!

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3 – Caimento e estilo no quiet luxury

Loro Piana

Caimento impecável estilo clássico que pode ter um toque moderno são o mínimo exigido. A roupa prêt-à-porter parece feita sob medida e a sob medida parece que foi feita no céu por anjos e fadas.

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4 – Marca não aparente

Não custa destacar aqui de novo o fato de que o logo da grife se torna secundário, as vezes surgindo em um detalhezinho ou nem aparecendo. O quiet luxury é o contrário do estilo daquela galera que curte streetwear ostentação, do “quanto custa o outfit“, do logo estampado no peito em cores berrantes.

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5 – Quiet luxury e o minimalismo

O terreno para a “ascensão” do quiet luxury foi preparado pela tendência minimalista que, de uma maneira geral, impera na moda, sobretudo a masculina, há alguns anos.

No início da década passada já houve algum buzz em torno das pessoas da classe A que preferiam se vestir de maneira mais discreta, mas agora essa ideia parece mais alinhada com o momento que estamos vivendo.

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6 – Quiet luxury é exclusividade

Quiet Luxury - Moda Masculina - Ralph Lauren
Ralph Lauren

Roupas feitas com excelência, pouca oferta, preços altos… nem preciso dizer que se trata de uma vertente da moda que não é para qualquer um. O mais curioso é que enquanto um item de luxo feito para ostentar tenta esfregar na cara da sociedade que é caro e exclusivo, aqui esse dado serve para agradar apenas seu usuário, já que muitas vezes até é possível identificar a peça como sendo algo de qualidade, mas nem sempre as altas cifras ou a exclusividade são aparentes sem um exame mais próximo.

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Algumas grifes masculinas que estão bem alinhadas com o quiet luxury

  • Zegna;
  • Canali;
  • Brunello Cucinelli;
  • Ralph Lauren;
  • Luca Faloni;
  • Loro Piana;
  • Jill Sander;
  • Connolly;
  • Dunhill.

Por que tanto buzz em torno dessa tendência?

Segundo as revistas de moda, especialistas da área e influenciadores digitais essa é a nova onda, a tendência que irá dominar nos próximos anos, mas nós sabemos que se trata apenas daquele assunto da vez que a mídia e a indústria da moda cria quando quer fingir que está se reinventando.

Na teoria, as pessoas estariam enxergando que a qualidade está acima da marca ou ostentação e, num arroubo de conscientização, estariam mais preocupadas em ter um guarda-roupas discreto. Tem gente fazendo isso? Tem, mas são uma minoria endinheirada, na outra ponta dessa história há uma maioria cada vez mais interessada em portar um produto que mostre seu poder aquisitivo. Quer um exemplo em uma palavra? Rolex.

A marca de relógios de luxo tem fila de espera de um ano ou mais para seus modelos mais conhecidos, como o Submariner ou o Daytona, e a febre em cima da marca, embora não esteja em seu auge, está longe de acabar, mesmo que existam uma dezena de fabricantes tão ou mais capazes, mas com preços inferiores. Mas como ostentar sem a pequena coroa enfeitando o dial do relógio, não é?

Para quem é o quiet luxury?

É melhor não comprar a narrativa de certas marcas de shopping vendendo quiet luxury, porque não estamos falando de camiseta de algodão pima por 200 reais, estamos tratando de camisas de mais de 4.000 reais que não trazem nem um bordadinho em tom sobre tom com a cor da peça, nem mesmo em uma edição limitada. Resumindo: Quiet Luxury não é apenas esconder o logo ou diminuir o tamanho da etiqueta.

Justamente por ser algo voltado para um público tão específico (e tão rico) que eu acho esse buzz todo apenas uma maneira que a indústria da moda encontrou para se manter relevante em uma época em que pouco se produz de novo e criativo nesse mercado. Por exemplo, muito se fala em matérias de revistas de moda sobre a série Succession e a maneira discreta como a milionária família que é centro da trama se veste, mas volte no tempo 10 ou 20 anos e notará que os personagens de ricos em filmes ou séries só ostentam quando isso faz parte do plot. Aliás, você pode voltar até os anos 90 e raramente vai encontrar um logo berrante em um figurino de “As Patricinhas de Beverly Hills”.

Série Succession: muito luxo e nenhum logo a vista!

Mesmo no mundo real, a ostentação não é regra dos muito ricos, geralmente é uma característica de pessoas que tem problemas de autoconfiança ou que precisam se reafirmar em seu meio, eu não acho que alguém que mora em uma mansão em Mônaco (foto acima) necessita de um logo enorme na polo para mostrar que é rico.

O que muda na moda?

Ralph Lauren - Quiet Luxury - Moda Masculina
Ralph Lauren

As marcas que vendiam com base na etiqueta estão tendo que repensar sua estratégia para se alinhar com a nova narrativa do mercado, embora algumas pesquisas* mostrem que para a maioria o logo ainda importa.

Mesmo os designers e estilistas ajustaram o discurso, ao ponto de surgir a seguinte pérola em uma matéria da Vogue:

“E, após as polêmicas causadas pela grife no fim do ano passado, até Demna (ex Gvasalia) disse que irá deixar de lado o buzz na Balenciaga e focar em fazer roupas bem-feitas, resgatando o que realmente foi importante para a marca na época do fundador Cristóbal Balenciaga.”

Isso mesmo que você leu, o diretor criativo da Balenciaga admitiu que eles vão parar de fazer roupas espalhafatosas, mas vagabundas. Literalmente admitiu que a qualidade da marca estava em segundo plano e havia decaído! Que vergonha!

Duvida? Leia a matéria completa aqui!

Conclusão:

Na nossa vida não muda muita coisa, já que o minimalismo atual já garante roupas com logos discretos ou inexistentes, então fica difícil dizer que essa é uma tendência de forte impacto para 99% da população mundial e que vai mudar o modelo de negócio da Zara e da Shein.

Muito se fala da quantidade de buscas do termo “quiet luxury” no Google e nas redes sociais, mas isso só reflete que as pessoas não sabem do que se trata, não um verdadeiro interesse de adesão ou algum tipo de simpatia pelo estilo.

Enquanto isso a moda masculina segue relativamente estagnada, pois depende de mudanças na cabeça dos consumidores e em seu estilo de vida, mas até o momento nada de impactante surgiu para criar uma nova onda, sendo assim a probabilidade mais alta é que essa mudança aconteça paulatinamente nos próximos anos, como de costume.

1 COMENTÁRIO

  1. Como foi citado Succession, só me lembrei daquela cena que resume o quiet luxury: o Logan Roy desdenha de um Patek Philippe dado pelo Tom. Segue para ele num helicóptero, checando as horas num relógio discreto

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