Você já deve ter ouvido falar de lã tropical, talvez até já tenha visto um terno a venda onde se afirmava que o traje era feito desse material. Pois bem, neste artigo eu vou explicar porque muitas vezes essa história de lã tropical não passa de pegadinha.
Lã Tropical – Caso 1
Certa vez, passava eu por uma conhecida loja no Shopping Paulista quando vi um costume com uma tag onde se lia em letras garrafais “Lã Tropical em promoção”. Perguntei a um vendedor (que tentava capturar clientes na entrada do estabelecimento) do que se tratava, pois era uma curiosidade minha na época e havia pouca literatura a respeito. Displicentemente ele respondeu “é microfibra”.
Microfibra é a mistura de poliéster com poliamida, ou seja, um dinossauro teve que virar petróleo para que você tenha um terno e não há nada muito tropical nessa história. Embora a poliamida se esforce para imitar fibras naturais, se comportando de uma maneira bem mais agradável do que o poliéster, não é juntando os dois que conseguimos algo digno de ser chamado de “lã” ou de “tropical”.
Lã Tropical – Caso 2
Sites brasileiros de venda de tecido explicam a lã tropical de uma maneira mais convincente: é a mistura de lã e poliéster, criando um material fresco mais resistente e barato, mas que não tem o mesmo conforto térmico da lã fria tradicional. Como no Brasil os padrões de qualidade no ramo fabril costumam não ser dos mais altos, imaginei que esse poderia ser o verdadeiro Santo Graal conhecido como “lã tropical”, e segui com minha vida. Tempos depois descobri um errinho semântico (proposital ou não): lá fora a mistura de poliéster com lã é chamada de poliéster tropical (as vezes com o “+ lã” na frente)!
Lã Tropical – Caso 3
Tempos depois fui convidado para um press day de diversas marcas de moda, entre elas estava a Crawford, notória grife de moda masculina, lançando sua coleção de verão. Numa conversa com um dos estilistas da marca me deparei com um belíssimo blazer, que ele me informou ser de lã tropical. Claro que não perdi a oportunidade de perguntar do que se tratava! Sua explicação foi praticamente idêntica a que consta atualmente no site da marca americana Mood Fabrics:
“A lã tropical, é uma lã leve e arejada, ideal para uso durante o ano todo. Geralmente é classificada como leve, resultando em lacunas maiores na trama, tornando o material poroso e mais respirável. Isso permite que o tecido dissipe o calor e a umidade, o que ajuda a evitar problemas de transpiração. Outra vantagem é que ele não enruga tão facilmente quanto outros materiais de terno e ainda permanece resistente, apesar de sua qualidade leve. A lã tropical é um material fantástico para se vestir no clima quente e pode se transformar em ternos para ocasiões que vão desde encontros casuais a casamentos ao ar livre em meados de junho…“
Acho que temos um vencedor…
Lã Tropical – Epílogo
Faz muito mais sentido que a lã tropical realmente seja uma lã, mas não tão pesada e com trama mais aberta, por outro lado, certamente se trata de um tecido caro e não tão fácil de encontrar, com o brasileiro tendo pouco contato com tal preciosidade fica fácil enganar os incautos, apresentando qualquer outro produto fabril sob essa alcunha e, ainda por cima, bem mais barato!
Se um terno ou costume de lã super 120 não sai, na melhor das hipóteses, por menos de 4 dígitos, pode crer que um traje por menos que isso “é uma cilada Bino!”
Para evitar esse tipo de pegadinha (olha o eufemismo) sempre confira a etiqueta, tem que ter, ao menos, 99% de lã de merino na composição do tecido externo com, eventualmente, 1% de elastano para deixá-lo mais elástico e confortável.